Zika vírus e microcefalia: estado de emergência de saúde pública

Às vésperas do verão, a população assiste impotente à proliferação do mosquito Aedes Aegypti, causando uma epidemia de Zika vírus, mais mortal do que nunca. Como se isso já não fosse problema o bastante, o mosquito também causa a Chikungunya e Dengue. Enquanto há crescente número de notificações de casos de Zika, as autoridades não conseguem controlar o mosquito.

A equação do problema é: o saneamento básico precário, coleta de lixo inadequada, impermeabilização das cidades, além de calor e umidade. Tudoo que a larva precisa para se proliferar! Em relação à Dengue, tivemos um aumento de 79% de casos de mortes em relação ao ano passado.

Agora, a Zika avança sem precedentes.Seu diagnóstico é feito através da identificação do vírus em amostra de sangue e tecidos tanto do bebê como da mãe.Todas as gestantes devem fazer o teste diagnóstico. Os sintomas do Zika vírus são:

  • febre alta;
  • náuseas;
  • vermelhidão nos olhos;
  • manchas na pele;
  • erupções cutâneas;
  • dores musculares;
  • inchaços nas mãos e pés.

Zika vírus e Microcefalia

Atualmente, a principal complicação do Zika vírus é a Microcefalia, uma má formação do cérebro que pode ocorrer quando a gestante é infectada pelo vírus nos 3 primeiros meses de gravidez. Ela causa inflamação no tecido cerebral do feto e nos vasos sanguíneos, o que causa a atrofia, aparecendo calcificações que impedem o desenvolvimento do cérebro, que se forma com uma circunferência de no máximo 33 centímetros. Com isso, as crianças poderão ter problemas de visão, fala, locomoção e até convulsões.

Quando a gestante é infectada após o 5º mês, os bebes podem apresentar outras complicações neurológicas.Os especialistas ainda advertem que a transmissão pode ocorrer na hora do parto e na amamentação. Além disso, na literatura médica, há relatos da transmissão por relação sexual, transfusão de sangue e transplante de órgãos. Outra enfermidade associada ao vírus é a síndrome de GuillainBarré, uma doença neurológica autoimune que provoca fraqueza muscular e, em casos graves, pode até paralisar a musculatura respiratória.

Como se proteger do Zika vírus

Nesse momento, a prevenção é a maior arma contra o Zika vírus. Existem várias medidas que podem ser tomadas, como:

  • eliminar criadouros de mosquito;
  • manter portas e janelas fechadas ou teladas;
  • usar roupas claras, como calça e camisa de mangas compridas, meias e chapéu;
  • usar repelentes;
  • esteja em ambientes fechados entre anoitecer e amanhecer, que é quando os mosquitos são mais ativos.

Apesar de se recomendar normalmente repelentes comerciais, eu, particularmente, aconselho evitar esse tipo de produto químico por diversas razões.

Então, qual repelente usar?

É importante que você escolha um repelente seguro. Somente 1/3 desses produtos do mercado são seguros para adultos… imagine para crianças! Vou te dar um exemplo. Existe uma substância, o DEET (N, N-diethyl-meta-toluamide) que é usado em centenas de produtos, em concentrações acima de 100%. Infelizmente, o DEET tem se mostrado lesivo ao cérebro e sistema nervoso.

As crianças, principalmente, estão sob risco de mudanças neurológicas, pois sua pele absorve os químicos do ambiente mais rapidamente. Com isso, essas substâncias exercem efeitos mais potentes no desenvolvimento de seu sistema nervoso. Ainda bem que há outras opções de repelentes de inseto além do DEET, e segundo os testes da ConsumerReport, há alternativas naturais, que podem ser até mais eficientes sem os efeitos colaterais.Veja quais são a seguir.

Comparação entre repelentes

Comparou-se 3 produtos em spray com os repelentes feitos com DEET:

  • óleo de eucalipto citriodora;
  • picaridin,um químico chamado IR 3535;
  • produtos feitos com óleo de plantas naturais.

Os voluntários usaram esses produtos na pele e, após 7 horas, ainda mantinham os mosquitos distantes, sendo os mais eficientes os produtos que continham 20% de picaridin ou a 30% de óleo de limão de eucalipto.

Picaridin

Assemelha-se ao composto natural peperine, um óleo essencial de pimenta preta. Mas, na verdade, ele não é um produto natural, é sintetizado em laboratório. Apesar disso, não apresenta a mesma neurotoxicidade que o DEET, apesar de não ter sido testado por longos períodos. Mesmo assim é melhor do que o DEET, pois seus efeitos colaterais são menos severos, como a irritação de pele e olhos. Por isso, não deve ser usado em crianças de menos de 3 anos.

Óleo de limão de eucalipto

É considerado um repelente biopesticida. Originário da goma da árvore do eucalipto, cujo nome é p-menthane-3, 8-diol (PMD), sua versão sintética com propriedades pesticidas é usada como repelente. Seus efeitos colaterais são possível irritação de pele ou olhos. Apesar de ambos os produtos apresentarem possíveis reações adversas, ainda são reações menos severas que as do DEET. Podem ser usados esporadicamente, especialmente em crianças e idosos.

Porque evitar repelente com DEET

Repelentes com DEET são os mais usados anualmente. Mesmo assim, segundo a Agência de Substâncias Tóxicas e Registro de Doenças do governo americano, já ocorreram 8 mortes pelo uso desses produtos entre 1961 e 2002, sendo 3 por ingestão e 5 por uso tópico.

Efeitos colaterais dos repelentes com DEET:

  • alteração do estado mental;
  • alucinações;
  • agitações;
  • desorientação;
  • dor de cabeça;
  • erupções cutâneas;
  • irritação de pele e mucosa;
  • náuseas;
  • tonturas.

Além disso, segundo o farmacologista Mohamed Abou-Donia, da Duke University Medical Center, que vem pesquisando por 30 anos os efeitos dos pesticidas, o longo tempo de exposição ao DEET pode causar comprometimento da função celular em certas áreas cerebrais. Segundo seus estudos em animais, outros possíveis efeitos colaterais são:

  • tremores;
  • dor de cabeça;
  • dor articular e muscular;
  • respiração curta;
  • redução da memória;
  • fraqueza muscular e cansaço.

Ainda segundo Abou-Donia, a exposição ao DEET é ainda mais perigosa quando em conjunto com outros químicos, como sabonetes, desodorante, protetores solares, além de certas medicações.

Permethrin

É outro produto químico usado em sprays contra insetos. É um membro da família Piretroide, químicos que são neurotóxicos. É carcinogênico, podendo induzir câncer de pulmão, fígado, problemas imunológicos, além de alterações cromossômicas. Além disso, ele não é ruim só para você, mas para a natureza, pois agride o ambiente, sendo tóxico para abelhas, gatos e peixes. Em doses altas, pode gerar tremores, perda de coordenação, comportamento agressivo e distúrbio de aprendizado.

Opções não químicas

A ConsumerReport também analisou opções não químicas para repelir os mosquitos e chegou às seguintes conclusões.

  • Vela de citronela: não é muito eficiente, cerca de 31% de proteção.
  • Difusor de óleos essenciais: também pouco eficiente, menos de 31% de proteção
  • Ventiladores: melhor proteção, com 45% a 65% de eficiência para indivíduos sentados no alcance do aparelho. Eles reduzem a temperatura corpórea e dissipação do calor, odor e ácido lático, fatores que atraem o mosquito.

Como ficar em ambiente externo

  • Quando você está suado e com temperatura corpórea aumentada, como no exercício ou pós-exercício, você produz ácido lático. Este é o momento em que você parece estar sendo comido vivo, portanto, procure estar seco e frio, o que de certa forma ajuda a evitar os mosquitos.
  • Considera-se que a estação dos mosquitos acontece de outubro a março. Nesse período, procure usar suplemento de Complexo B, adicionado com 100mg de extra de vitamina B1.
  • Alho ajuda na proteção contra picada de mosquito, desde que consumido regularmente.
  • Óleo de Catnip (erva do gato), segundo estudo, é cerca de 10 vezes mais efetivo que DEET.
  • Usar sabonete de citronela e passar na pele óleo de citronela com 100% de pureza.
  • Fórmula manipulada com citronela, óleo de capim-limão e óleo de menta
  • Óleo de eucalipto citriodoro – usar o óleo puro a 10%. Como ele não se mistura com água, há necessidade de um veículo carreador de óleo, por exemplo, o óleo de oliva, vodka ou óleo de coco.

Dicas: coloque em um frasco que tenha tampa com bocal de spray para fácil aplicação.Use 10% do óleo de eucalipto com 90% do seu óleo veiculo carreado, agite o frasco antes de usar e pulverize na pele. Conserve-o em lugar fresco e abrigado do sol e não use na área dos olhos.

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Referências bibliográficas:

  • Fundamental and Applied Toxicology 1996
  • J Am Mosq Control Assoc March 2014
  • Beyond Pesticides 2002
  • Journal of Chemical Ecology March 1999
  • International Journal of Advanced Research, 2013;1(6):504-521
  • Morbidity and Mortality Weekly Review, Oct 6, 1989;38(39):678-679.
  • JAMA, January 15, 1997;277(3):231-237
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