Veja porquê eu não indico o uso do óleo de cártamo

Para início de conversa, precisamos desfazer um mito. Eu preciso que você esqueça aquela conversa de que o óleo de cártamo (ácido linoleico), quando consumido em determinada quantidade, se transforma em CLA (ácido linoleico conjugado). Isso é mentira!

Essa confusão começou quando um bioquímico universitário publicou em seu site um artigo sobre o CLA dizendo que os indivíduos poderiam consumir ácido linoleico e com isso transformá-lo em CLA. Essa informação é estimulante, mas extremamente mentirosa.

Produzir o seu próprio CLA só seria possível se os humanos fossem herbívoros e mastigassem seu próprio rumem. E todos nós sabemos que os seres humanos não têm essa capacidade. Isso é coisa para vacas, ovelhas e cabras.

Não obstante, nós até podemos produzir CLA a partir do ácido transvacinico que nos chega por meio da gordura do leite. Esse ácido pode ser dessaturado pelo mesmo sistema que o nosso corpo utiliza para produzir o ácido oleico do ácido esteárico.

Esse crescente aumento na procura por este tipo de óleo se deve ao fato de não podermos utilizar suplementos de CLA no Brasil. A Anvisa não comprovou a eficiência, nem a segurança do óleo, apesar dele ser utilizado livremente na América e na Europa.

Alías, nestes continentes não há suplemento de óleo de cártamo, simplesmente por não ser liberado o produto tão desejado e comprovado, que é o CLA, mas no Brasil as farmácias de manipulação e as indústrias de suplemento alimentar começaram a oferecer esse tipo de produto.

Particularmente, eu não indico que os meus pacientes façam uso deste óleo. E vou te dizer o porque:

O CLA usado em suplementos está associado com efeitos colaterais negativos tais como:

  • resistência à insulina;
  • aumento do nível de glicose;
  • redução do HDL (bom colesterol); e
  • desconforto gástrico.

Tanto o ômega 6, como o ômega 3, são considerados ácidos graxos essenciais e não são produzidos pelo organismo, devendo sempre ser ingerido através de dieta.

No século passado nós ingeríamos uma alimentação onde a relação de ômega 3 e ômega 6 se mantinha no nível de um para um (1:1), no máximo de uma para quadro (1:4). Mas hoje, como mais de 85% da alimentação das pessoas é baseada em produtos industrializados e proteína de animais criados em confinamentos, essa relação sofreu um grave desequilíbrio. Os níveis de ômega 6 estão cada vez mais altos em relação ao ômega 3. Essa reação é uma das principais geradoras de inflamação silenciosa, precursora de dezenas de doenças do mundo moderno entre as quais podemos destacar as doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, câncer, Alzheimer, artrites, entre outras.

É por essas e outras que eu sempre sugiro uma alimentação rica em ômega 3. É primordial que você tenha em sua dieta carne, leites e derivados que sejam provenientes de animais alimentados naturalmente com pastagem, ou ainda suplementos de óleo de peixe.

E por falar em peixe, em um mundo ideal, eles seriam ainda mais ricos em ômega 3, mas o que vemos hoje é bem o contrário. Cada vez mais estamos consumindo peixes criados em tanques, passando por um alto risco de contaminação por metais tóxicos. Somente o salmão selvagem do Alaska e a sardinha ainda possuem altos e seguros níveis de ômega 3.

Ingerir ômega 6 também é extremamente importante, desde que numa quantidade adequada e que não seja oriunda de óleos processados e refinados. Sendo assim, procure evitar consumir o óleo de milho e o de soja, a margarina e as gorduras hidrogenadas. Evitando esses produtos, você também acaba evitando o desequilíbrio entre os dois tipos de ácido.

Mas, para te ajudar com essa situação, veja abaixo a lista de gorduras que podem ajudar a melhorar a relação entre o ômega 3 e ômega 6:

  •             óleo de oliva extra virgem;
  •             óleo de coco;
  •             produtos provenientes de animais criados em pasto (leite, queijo, carne); e
  •             abacate.

O equilíbrio é tudo!

Nós já falamos sobre a importância do equilíbrio entre o ômega 3 e o ômega 6 para a nossa saúde. Sendo assim, além de seguir uma alimentação balanceada, devemos também utilizar de recursos laboratoriais que ajudem a determinar e monitorar estes níveis, com isso obtendo um resultado ainda melhor e mais seguro.

Sinais e sintomas de desequilíbrio entre o ômega 3 e ômega 6       

Quando estamos em um processo de desequilíbrio entre os ácidos graxos em nosso organismo, o nosso corpo emite sinais para nos alertar com relação a isso. Por isso, fique bastante atento caso você apresente os seguintes sintomas:

  •  pele, olhos e cabelos secos;
  • rachaduras de pele;
  • palidez de pele na face;
  • olheiras;
  • transpiração excessiva;
  • unhas quebradiças;
  • excesso de sede ;
  • dificuldade de cicatrização;
  • imunidade baixa;
  • infecções frequentes;
  • alergias;
  • micção frequente;
  • distúrbio de atenção;
  • irritabilidade;
  • cansaço;
  • dificuldades de aprendizado; e
  • hiperatividade.

Caso você apresente a maioria destes sintomas, procure seu médico e converse com ele sobre isso. Ele poderá recomendar a você algumas medidas que vão ajudar a melhorar este quadro.

Ômega 3: origem animal   versus  origem vegetal

Uma coisa é fato! Nós não podemos ingerir ômega 3 somente a partir de origem vegetal, pois nesse caso (como acontece com a linhaça, linho e chia) alguns vegetais também são riquíssimos em ácido alfa linoleico (ALA), que por sua vez precisa ser convertido em EPA e DHA.

Como o nosso corpo não processa esses ácidos de uma forma muito positiva, acabamos ficando sem todos os tipos de ômega 3.  Portanto, é fundamental ingerir o ômega 3 também a partir da origem animal.

Vale lembrar que é necessário evitar os suplementos compostos somente por DHA, pelo mesmo motivo das plantas.

Eu digo e repito: o equilíbrio é a chave do sucesso!

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            Referências Bibliográficas:

 

  • Diabetologia. Jun 2004; 47(6): 1016-9     
  • J. Nutr. Jan. 2003; 133(1):257S-260S
  • Diabetes care. Sep. 2002; 25(9):1516-21
  • Circulation. Oct. 08, 2002; 106(15):1925-9
  • Diabetologia. May 2004; 47(5): 770-81
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