O Câncer é uma Disfunção Mitocondrial?

Diariamente cerca de 21.000 pessoas morrem de câncer em todo o mundo.

Muitas dessas mortes são desnecessárias, elas são evitáveis​​e tratáveis. Aliás, essa doença é uma das condições mais gerenciáveis que se conhece segundo Thomas Seyfried, Ph.D, professor de biologia no Boston Collegee um dos principais especialistas e pesquisadores no campo do metabolismo do câncer e da cetose nutricional.            

No seu livro, “O câncer como uma doença metabólica”, ele explica como a doença começa e como pode ser tratado, no mínimo em 80% dos casos.

Ele é um dos pioneiros na aplicação da cetose nutricional para o câncer; embasado nos trabalhos do Dr. Otto Warburg, que foi, sem dúvida,um dos mais brilhantes bioquímicos do século XX, ganhador do Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1931 pela descoberta do metabolismo de células malignas.

Mas não é só o câncer que pode ser tratado, a maioria das doenças estão enraizadas num mesmo problema: a disfunção mitocondrial.

Este tipo de disfunção também desempenha um papel importante no diabetes, obesidade, hipertensão e hipercolesterolemia, além das doenças neurodegenerativas como Alzheimer, Parkinson e esclerose lateral amiotrófica (ELA).

Com isso, a maioria das principais doenças que estamos atualmente tratando com drogas pesadas e tóxicas pode potencialmente ser resolvida com uma intervenção nutricional adequada que lida com sua escolha de combustíveis celulares.

Porém, muitas pessoas não querem fazer a sua parte, ou seja, tomar as medidas preventivas para evitar essas doenças ou o câncer. Nestas medidas se incluem fazer jejuns terapêuticos periódicos, além de comer menos e mover-se mais.

No momento que você entende que essas doenças, em especial o câncer, são doenças metabólicas, é perfeitamente possível que você tenha bons resultados.

Assim você não precisa ficar achando que ter câncer é a vontade de Deus ou um azar.

Câncer como Doença Metabólica

A visão tradicional é que o câncer é uma doença genética,mas já nos estudos do Dr. Warburg, ele observou que a doença é realmente causado por um defeito no metabolismo celular, principalmente relacionado à função das mitocôndrias.

Baseado nessas informações e nos seus estudos, Seyfried observou:

    “Um dogma é considerado verdade irrefutável, e que o câncer é uma doença genética é, sem dúvida, um dogma. O problema do dogma é que às vezes você cega para pontos de vista alternativos e cria ideologias extremamente difíceis de mudar.

    Todos os principais livros escolares falam sobre o câncer como uma doença genética. Nosite do National Cancer Institute (NCI), a primeira coisa que eles dizem é que o câncer é uma doença genética causada por mutações … [e] se o câncer é uma doença genética, tudo flui desse conceito.

    Ela permeia a indústria farmacêutica, a indústria acadêmica e a indústria de livros didáticos – toda a base de conhecimento. Há muito pouca discussão de visões alternativas para a visão genética. O argumento agora é que, sim, problemas metabólicos ocorrem nas células cancerígenas. Ninguém nega isso.

    Mas tudo isso é devido às mutações genéticas. Portanto, devemos nos manter no caminho estabelecido de que todo esse material metabólico poderia ser resolvidos e apenas compreendêssemos mais sobre o fundamento genético da doença.

    Agora,isso seria bom e bom se fosse verdade. Mas estão se acumulando evidências de que as mutações que vemos que são o foco principal e a base da teoria genética são, na verdade, epifenomênicas.

    Eles são efeitos a jusante deste distúrbio no metabolismo que Warburg originalmente definiu nos anos 20 e 30”.

A visão metabólica muda o tratamento do câncer

Então, se as mitocôndrias defeituosas gerando metabolismo energético defeituoso são responsáveis ​​pela origem do câncer, a forma de se tratar é totalmente diferente.  

A conclusão de Seyfried, formado de uma base científica sólida,entende que o câncer é de fato uma doença metabólica, não genética, e que as mutações genéticas são uma consequência do metabolismo de energia defeituosa na mitocôndria. E diz:

    “Esses experimentos de transferência nuclear sempre estiveram presentes na literatura. Eles foram considerados anomalias. Eles não eram consistentes com a visão de que o câncer é uma doença genética nuclear… mas a observação não foi interpretada à luz de [ser] a origem do câncer.

    Reuni todas essas observações em uma nova luz, observando as conclusões desses experimentos à luz de se os resultados suportariam uma teoria baseada em genes nucleares versus uma teoria metabólica mitocondrial […]

    Foi apenas interpretar uma série de experimentos à luz da origem da doença e, em seguida, perguntar qual conclusão esses experimentos suportariam. Suportaria a teoria genética nuclear do câncer, ou apoiaria a teoria metabólica mitocondrial do câncer?

    Em cada um desses casos, os resultados apoiaram mais fortemente a teoria metabólica do câncer do que a teoria da genética nuclear.”

As experiências que suportam isso

Estas explicações são para as pessoas “tecnicamente inclinadas”:

– transplantando os núcleos de uma célula tumoral (excluindo o núcleo da célula original) para um citoplasma saudável e normal, que inclui a mitocôndria, a organela geradora de energia da célula, observou-se que o novo citoplasma NÃO formou câncer. Permaneceu saudável e normal.

E segundo Seyfried:

    “O que foi interessante é que em muitos desses experimentos de transferência nuclear, os organismos abortaram em certos períodos de desenvolvimento. Esse aborto parece estar relacionado a quantas mutações estavam no núcleo que foi transferido”.

    “Era verdade que esses núcleos de câncer continham mutações, mas essas mutações não estavam causando a característica marcante da doença, que é a proliferação. Em vez disso, estavam causando aborto em algum ponto de desenvolvimento do organismo que tinha esses núcleos. Por outro lado, quando o núcleo normal era transferido de volta para um citoplasma de câncer [que tinha mitocôndrias defeituosas], ou a célula morria ou formava células tumorais.”

Ou seja, se o câncer é dirigido pelo gene nuclear e o fenótipo do câncer é o crescimento desregulado das células, aonde as mutações genéticas são responsáveis ​​pelas características observáveis ​​da doença, esses genes anormais deveriam se expressar no novo citoplasma. Mas não foi isso que ocorreu.

Outros experimentos realizados por pesquisadores da Baylor University, aonde eles transplantaram mitocôndrias normais (com seus núcleos intactos) para o citoplasma das células cancerosas, elas fizeram com que as células parassem de crescer anormalmente. Houve uma inibição dos oncogenes que supostamente estavam dirigindo o tumor e fez com que as células crescessem normalmente de novo.

Mas, quando pegaram as mitocôndrias de uma célula tumoral e a transformaram em um tipo de célula cancerígena de crescimento muito lento, as células cancerígenas começaram a crescer muito rapidamente.

E a conclusão de Seyfried,

“Quando você agrupa todos esses experimentos, chega à conclusão de que as mutações nucleares não podem ser as forças motrizes da doença”.

E quanto aos genes de câncer herdados?

Nestes casos aonde o câncer pode ser herdado segundo a teoria genética, como por exemplo na síndrome de Li-Fraumeni, que aumenta orisco de desenvolver câncer em uma idade muito jovem, e o BRCA1, que aumenta o risco de câncer de mama, veja a argumentação do Dr. Seyfried:        

    “A resposta é, sim, na superfície, isso parece ser verdade”, diz Seyfried. “Mas, como Warburg disse,há muitas causas secundárias de câncer, mas há apenas uma causa primária, e isso causa danos à respiração. Portanto, mutações herdadas através das linhas germinativas que causam o câncer afetam as mitocôndrias, ainda são as mitocôndrias. Essa é a origem do câncer.

    Acontece que o defeito é proveniente de um gene herdado, em vez de um carcinogênico químico, radiação, infecção viral ou uma infecção de algum parasita ou qualquer outra coisa, todos os quais danificam a respiração. Tudo isso pode causar câncer.

    Claramente, a origem da doença é uma perturbação da capacidade respiratória daquela célula que, então, se a célula sobreviver, deve regular positivamente os genes necessários para a fermentação. Muitos desses genes são os chamados oncogenes. Os oncogenes estão simplesmente cumprindo um evento de resgate dessa célula para funcionar em um metabolismo de fermentação em vez de um metabolismo oxidativo. Nós podemos regular negativamente os oncogenes simplesmente colocando nova respiração ”.

Ou seja, as mutações genéticas não são a causa primária do câncer, mas sim um efeito secundário e consequente da disfunção mitocondrial. Então, por que e como as mutações ocorrem?

Segundo Seyfried, uma vez que ocorre a disfunção mitocondrial causada por danos na respiração celular, desencadeia-se uma fermentação compensatória, que requer a regulação positiva dos oncogenes (genes do câncer).

Com essa disfunção há produção de grandes quantidades de espécies reativas de oxigênio (ROS) e radicais livres secundários que danificam proteínas e lipídios do DNA (gorduras dentro de suas membranas celulares).

Agravando mais o problema, os ROS também causam mutações no genoma nuclear. Portanto, as mutações são o resultado da respiração celular defeituosa e da subsequente produção exagerada de ROS.

Como evitar se tornar uma estatística de câncer com a dieta keto

Portanto, se suas mitocôndrias permanecerem saudáveis e funcionais, suas chances de desenvolver câncer e doenças crônicas são escassas.

Para isso, conte com a dieta keto, respeitando uma restrição de carboidratos a 50 gramas por dia e a limitação de proteínas (de 1a 2 gramas de proteína por quilograma de massa corporal magra). A glicemia dejejum precisa estar abaixo de 70 mg / dL.

Se você quiser evitar tornar-se uma estatística de câncer (e quem não quer?), você faria bem em se familiarizar com a teoria metabólica do câncer.

Como corrigir a disfunção mitocondrial?

O seu alvo principal é se tornar um queimador eficiente de gorduras, gerando cetose e vários benefícios para a saúde.

O primeiro passo para isso é fazer jejum intermitente ou dieta keto, aonde essa restrição alimentar promove uma diminuição da sua glicemia.

Como consequência, seus níveis de insulina diminuem e o seu corpo começa a metabolizar a gordura como energia, gerando os corpos cetônicos.

Estes são considerados um combustível mais “limpo” do que a glicose ou os ácidos graxos. Atualmente, a maioria das pessoas queimam a glicose como combustível primário, pela superabundância de açúcar e grãos processados ​​na dieta moderna e deficiência de gorduras saudáveis.

O que você precisa fazer é gerar energia a partir das gorduras, criando esses corpos cetônicos que vão promover uma diminuição de danos mitocondriais,  de DNA e da possibilidade de mutações no genoma nuclear, por uma menor geração de radicais livres.

Outro ponto importante é que, nessa dieta keto, a redução do açúcar no sangue inibe inflamação. Nós sabemos que a glicose em si não é cancerígena, mas a sua elevação desregulada o metabolismo leva à inflamação, oque causa uma série de outras perturbações no metabolismo geral do corpo, em especial o câncer.

Cetonas inibem produção de radicais livres

Essa situação gerada pela dieta keto, aonde a presença de cetonas impede a produção desregulada de radicais livres, melhora a função mitocondrial.

E a saúde mitocondrial, como vimos, é fundamental na prevenção das doenças degenerativas crônicas e do câncer.

Referências bibliográficas:

  • Thomas Seyfried Bio
  • Nutritionand Metabolism 2015;12:12
  • Carcinogenesis.2014 Mar; 35(3): 515–527
  • NIH.govLi-Fraumeni Syndrome
< Artigo AnteriorPróximo Artigo >