Mudanças cerebrais pelo excesso de açúcar

A maioria das pessoas atualmente consomem quantidades abusivas de açúcar, rotineiramente.

E isso não é só na forma que todos entendem do açúcar em si. Mas pelo fato de a maioria do alimento processado conter embutido quantidades excessivas de açúcar, acaba passando despercebido esse erro !

Pesquisa avaliando o cérebro de mini porcos que receberam excesso de açúcar na água, diariamente por 12 dias, mostraram uma importante redução de disponibilidade de receptores opioides e dopamina.

Isso significa que o excesso de estimulação causado pelo açúcar, promove uma redução de receptores, como mecanismo de defesa, para proteger o cérebro de lesões.

Consequentemente, a pessoa vai necessitar de um consumo maior de açúcar para conseguir a mesma resposta de prazer.

Esse é o mecanismo chave, de como começa a adicção (vicio).

Esses mini porcos na verdade, foram escolhidos pelo fato de terem bem definido as regiões sub corticais, pré frontal, semelhante ao que ocorre em humanos.

E o autor explica:   

“Após 12 dias de acesso à sacarose, BPND [potenciais de ligação não deslocáveis] de ambos os marcadores diminuíram significativamente no corpo estriado, núcleo accumbens, tálamo, amígdala, córtex cingulado e córtex pré-frontal, consistente com a regulação negativa das densidades de receptores… A menor disponibilidade dos receptores de opióides e dopamina pode explicar o potencial viciante associado à ingestão de sacarose.”

Nesse período de 12 dias, há uma redução em cerca de 14% em carfentanil (um agonista do receptor beta-opióide) evidenciando uma liberação opioide consistente.

Além disso, promove mudanças também em raclopride, um antagonista seletivo dos receptores de dopamina.

Portanto, de acordo com os autores, fica evidente que o efeito do açúcar, tem ação similar ao que ocorre com o abuso de drogas. Eles explicam:

“Sabe-se que a ingestão de sacarose como substância palatável libera DA [dopamina] e induz dependência em roedores, com a sacarose se mostrando ainda mais prazerosa do que a cocaína em roedores em determinados contextos. Assim, os roedores trabalham mais intensamente para obter sacarose do que a cocaína, mesmo na ausência de privação alimentar.

No entanto, os efeitos da sacarose são regulados tanto pelo sistema homeostático quanto por circuitos hedônicos de recompensa que podem mediar a distinção entre os aspectos nutricionais e hedônicos da ação da sacarose.

Optamos por uma programação de uma hora por dia para promover a ‘compulsão’… Os estudos comportamentais de ingestão de alimentos geralmente visam animais com restrição alimentar, mas o design pode não refletir necessariamente os mesmos mecanismos neurais ativos na obesidade. Os porcos do presente estudo não sofreram restrição alimentar e foram alimentados com as quantidades usuais de sua dieta normal, além do acesso à sacarose.

Os receptores opióides (OR) são amplamente expressos no cérebro, especificamente em estruturas conhecidas por modular os processos de alimentação e recompensa. Os ORs demonstraram ser importantes nos efeitos recompensadores e recorrentes da cocaína… Estudos anteriores mostraram que alimentos palatáveis ​​podem levar a sensações de prazer ao estimular a liberação de opióides.

Após 12 dias de acesso à sacarose, observamos diminuição da ligação do carfentanil, o que tem várias explicações possíveis, incluindo liberação endógena de opióides e ligação a μOR [receptores beta-opióides], internalização de μOR como resultado do aumento da ligação de opióides e aumento de DA D2/3 ativação do receptor levando à dessensibilização heteróloga de μOR …

Em um estudo de comportamento alimentar agudo em homens saudáveis, a alimentação levou a uma liberação cerebral endógena de opióides robusta e generalizada, tanto na presença quanto na ausência de hedonia, sugerindo que a liberação de opióides reflete respostas metabólicas e homeostáticas, bem como hedônicas”.

Já uma publicação no Learning and Memory, de 2015, mostra que o consumo de açúcar compromete a memória e processos de aprendizado.  

Veja o que os autores observaram:

“Descobrimos que os ratos expostos à sacarose falharam em mostrar respostas adequadas ao contexto … indicativo de deficiências na função do córtex pré-frontal, prejudicado.

A análise dos cérebros mostrou uma redução na expressão de interneurônios GABAérgicos imunorreativos à parvalbumina no hipocampo e córtex pré-frontal, indicando que o consumo de sacarose durante a adolescência induziu patologia de longo prazo, potencialmente sustentando os déficits cognitivos observados.

Esses resultados sugerem que o consumo de altos níveis de bebidas açucaradas por adolescentes também pode prejudicar as funções neurocognitivas que afetam a tomada de decisões e a memória, potencialmente tornando-os em risco de desenvolver distúrbios de saúde mental”.

Portanto, além do comprometimento de ganho de peso, que leva a outras condições como diabetes e doença cardiovascular, influência negativamente a área cerebral, como a Doenças de Alzheimer.

 

Referências bibliográficas:

Scientific Reports. November 2019; 9 article number 16918 

Science Alert. December 26, 2019 

Scientific Reports November 2019; 9 article number 16918, Discussion

Learning & Memory. 2016; 23: 386-390 

Learning & Memory. 2015; 22: 2015-224 

www.drrondo.com/acabar-vicio-acucar/

www.drrondo.com/acucar-causa-degeneracao-cerebral/

www.drrondo.com/excesso-acucar-impotencia/

www.drrondo.com/corte-o-acucar-e-reduza-o-risco-de-cataratas/

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