A silenciosa e mortal causa dos seus problemas com a memória

Uma dica: Não é Alzheimer!

Você já conhece os sinais indicativos de um AVC: a fala arrastada, dormência de um lado do corpo, a repentina confusão. Caso você ainda não esteja familiarizado com estes sinais é melhor tratar de conhecê-los. Se você tiver um AVC, a sua melhor chance de ter uma evolução boa é obter tratamento imediatamente. Agora eis aqui um pensamento assustador: e se você tiver um AVC e não houver nenhum sinal? Já pensou nisso?

Para 30% das pessoas acima de 65 anos de idade esse não é apenas um pensamento assustador. É uma realidade. E o pior de tudo é que você pode estar nessa categoria sem saber.

E como isso é possível? Acontece que esses AVCs silenciosos não afetam as áreas do cérebro envolvidas com as funções motoras; eles afetam a área envolvida com o pensamento. Se a sua memória tem dado algumas escorregadas ultimamente, essa pode ser a razão.

Infelizmente, quando se trata de AVCs silenciosos, o problema em si está no nome: eles são silenciosos. Então, essa perda gradual de memória pode estar ocorrendo vez após outra, causando danos cumulativos que você nunca saberia. Capacidade mental diminuída, perda da habilidade computacional e perda de memória acontecem tão gradualmente que você jamais suspeita da causa verdadeira.

O AVC silencioso é um tipo de AVC isquêmico que consiste de um coágulo sanguíneo em um vaso que fornece sangue para o cérebro. Ninguém sabia que esses AVCs silenciosos tinham uma participação tão importante na perda de memória até um estudo recente ser publicado no jornal Neurology que elucidava esse assunto. E foi bem na hora!

 

Essa descoberta revolucionária pode mudar significantemente a maneira como tratamos e nos prevenimos contra o declínio cognitivo.

Os pesquisadores estudaram 658 indivíduos com idade média de 79 anos que não tinham nenhum histórico de demência. Os participantes fizeram um teste que analisava a memória, aptidões para línguas e habilidades cognitivas.  Eles passaram por uma mensuração do hipocampo (essa é a parte do seu cérebro que é crucial no regulamento da memória, do aprendizado e da emoção), e tiveram o cérebro registrado por ressonância magnética.

Os escaneamentos revelaram que 174 pessoas tinham sofrido derrames silenciosos. Essas pessoas não se saíram tão bem nos testes de memória, independentemente de ter o seu hipocampo diminuído em tamanho ou não.

Esse estudo é importante porque, até então, o tamanho do seu hipocampo era o principal determinante do declínio cognitivo.  Afinal, o hipocampo é a parte do cérebro envolvida na memória em longo prazo de pessoas, lugares, eventos e coisas.  É também a parte do cérebro mais provável a sofrer declínio na velhice, encolhendo até 2% por ano.  Quando o seu cérebro encolhe, as células também encolhem e param de se comunicar entre si.  O resultado final é a perda de memória.

Agora sabemos que o encolhimento cerebral não é o único fator que contribui para a perda de memória, afinal, o sistema vascular tem também o seu papel.  Mas, há algo a mais que esse estudo nos informa: um AVC pode ser um fator potencial no desenvolvimento de Alzheimer.

“Nós mostramos que, além do tamanho (do hipocampo), o derrame também contribuía para a perda de memória e podia ser um indicador em potencial para o desenvolvimento de Alzheimer,” disse Adam Brickman, o coautor do estudo publicado em Neurology.

Mas, por mais assustador que isso seja, não é só escuridão e destruição.  A boa notícia é que não só é possível proteger o seu cérebro contra AVCs, mas também pode ser possível: Recrescer o seu cérebro em encolhimento e melhorar a sua memória ao mesmo tempo!

Se a ideia de recrescer o seu cérebro parece loucura, espere até você ouvir como fazê-lo.  Pronto?  Dê uma caminhada.  Você ouviu corretamente!  Simplesmente se levantar e andar por aí pode ser todo o “exercício” que você vai precisar para incrementar a sua memória e proteger o seu cérebro.

Confesso que também achei isso uma loucura, até que li a pesquisa do jornal Nature Communications. Os pesquisadores da Universidade de Pittsburgh seguiram 120 pessoas de terceira idade que eram colocados em dois grupos.  Um andava por 40 minutos, três vezes por semana.  O outro (o grupo de controle) fez alongamento e exercícios de tonificação.

Os seus resultados não eram baseados em um mísero questionário.  Ao invés disso, eles fizeram uma série de três escaneamentos cerebrais — antes, aos seis meses e um ano mais tarde — para determinar o tamanho do cérebro ao longo do tempo.  Eles descobriram que enquanto o grupo que não andava experimentou o declínio típico no tamanho associado ao envelhecimento, o grupo que andava até experimentou um aumento no tamanho do cérebro ao longo desse período de um ano.

Esse crescimento aumentado traduzido em resultados de vida real demonstrou que esses pacientes experimentaram melhorias na chamada “memória espacial” que é a memória de espaços e orientações, incluindo a habilidade para navegação.

Incrementar o tamanho do cérebro não melhorará todos os tipos de memória, já que há outros fatores de memória que não têm nada a ver com o tamanho do seu cérebro, mas já é um bom começo!

Aqui está o xis da questão: os pesquisadores não sabem o que ocasionou a melhoria.  Pode ter sido um aumento no número de células cerebrais, conexões mais fortes entre as células ou (e eu acho que há algo nesse último) um aumento em novas células sanguíneas, trazendo oxigênio e nutrientes para o cérebro.

Carl Cotman, diretor do Instituto do Cérebro que Está Envelhecendo e da Demência, na Universidade da Califórnia, em Irvine disse: “Se você traduzir o trabalho (anterior) em animais é provavelmente devido a mudanças na estrutura dos neurônios e fluxo sanguíneo aumentado”.

Já que os AVCs silenciosos podem causar danos ao limitar o fluxo de oxigênio para o cérebro, andar não só pode manter o oxigênio fluindo para evitar esses derrames silenciosos, como em primeiro lugar…

 

… pode desfazer anos de danos cerebrais!

E como se essa notícia não fosse suficientemente boa, eu tenho outra.  Um estudo recente confirmou o que eu venho falando para vocês há anos: uma dieta rica em alimentos gordurosos pode fazer maravilhas para a sua memória.

Nesse estudo, mais de 100 pessoas (muitos com 80 anos ou mais) fizeram exames de sangue junto com os testes para medir as suas habilidades cognitivas.  Muitos ainda tiveram ressonância magnética para estabelecer o tamanho e o volume do cérebro.

Dá para adivinhar?  Depois de todos aqueles testes, os pesquisadores descobriram que as pessoas de terceira idade com os maiores cérebros e melhores habilidades cognitivas tinham os níveis mais altos das vitaminas C e E e dos ácidos graxos Ômega 3.

Os pesquisadores podem ter ficado chocados, mas eu não estou.  Nós não estamos falando de ciência de foguete aqui.  O seu cérebro é 60% de gordura e a gordura mais proeminente no seu cérebro é o ácido graxo Ômega 3 DHA.

O DHA também é uma das poucas gorduras que têm o poder de atravessar a barreira sangue/cérebro, entrando na ativa assim que você o comer.

As melhores fontes de ácidos graxos Ômega 3 também são algumas das minhas favoritas: carnes de animais criados em pasto e peixes gordurosos.

Quem sabia que prevenir contra derrames, preservar a sua memória e afastar o Alzheimer podia ser tão gostoso?

 

Referência bibliográfica:

–       Exercise From 25 on Guards Against Stroke, Laino, Charlene, Family Practice News, August 26, 1993; 20.

–       Nutritional Status in Acute Stroke: Undernutrition Versus Overnutrition in Different Stroke Subtypes, Choi-Kwon S, et al, Acta Neurologica Scandinavica, 1998; 98:187-192.

–       Physical Activity and Stroke Risk: The Framingham Study, Kiely, Dan K., et al, American Journal of Epidemiology, 1994; 149 (7): 608-620.

–       Exercise and Risk of Stroke in Male Physicians, Lee I-M, et al, Stroke, January, 1999; 30: 1-6.

–      Physical Activity and Risk of Stroke in Women, Hu FB, Stampfer MJ, Colditz GA, et al, JAMA, June 14, 2000; 283 (22): 2961-2967.

 

< Artigo AnteriorPróximo Artigo >