Uma promessa possível

A ciência quase nunca é linear. Suas descobertas podem abrir os mais incríveis horizontes com a rapidez de um relâmpago.

O que o Viagra e o vaga-lume têm em comum? Os mais tímidos não precisam ficar desconcertados com o que estiverem imaginando e os desinibidos podem tirar o sorriso do rosto…A resposta está na química, mais precisamente no óxido nítrico (ON)! Essa substância funciona, nos vaga-lumes, como um sinalizador de reações bioquímicas – a lanterna se acende toda vez que a produção dessa substância é estimulada. No Viagra, o ON controla a pressão sanguínea nos vasos e produz a ereção. Bom, de certa forma, com minhas desculpas a tímidos e desinibidos, até podemos dizer que o objetivo é o mesmo: enquanto o vaga-lume dispara seus flashes para cortejar a fêmea, o homem se vale do Viagra para uma boa performance sexual. Mas parece que o óxido nítrico ainda guarda outras surpreendentes utilidades, como o combate aos radicais livres.

QUEIMANDO O OXIGÊNIO

No Brasil, um dos maiores estudiosos dos mecanismos de emissão de luz dos vaga-lumes é o bioquímico Etelvino Bechara, do Instituto de Química da USP. Ele está testando a hipótese de que o brilho dos vaga-lumes pode ser um adaptação evolutiva contra a ação nociva dos radicais livres. É que a bioluminescência desses coleópteros, produzida por células especiais chamadas fotócitos, é uma reação química que consome oxigênio. Sabe-se que a oxidação produz radicais livres, moléculas instáveis altamente reativas, pois seus átomos possuem número ímpar de elétrons. Para atingir a estabilidade, os radicais livres tendem a se associar rapidamente a outras moléculas de carga positiva, danificando células sadias do organismo. No vaga-lume, o oxigênio reage com uma substância chamada luciferina, controlada pela enzima luciferase. A luciferase esgota o oxigênio que existe dentro da célula. Dessa forma, poderia agir como antioxidante, reduzindo a formação de radicais livres no vaga-lume.

ASSIM CAMINHA A CIÊNCIA

Em 1987, cientistas norte-americanos descobriram que o óxido nítrico possuía ação vasodilatadora sobre as paredes internas de veias e artérias. A descoberta levou à produção de um medicamento contra impotência masculina, o Viagra, que rendeu o Nobel de medicina aos pesquisadores Louis Ignarro, Robert Furchogott e Ferid Murad, em 1998. Como a luciferase poderia contribuir para reduzir a oxidação celular em humanos é uma pergunta que ainda não tem resposta. Mas um dia talvez a ciência nos aponte o caminho. É aguardar para ver.

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