Tudo sobre a hemocromatose: o excesso de ferro no organismo

mulher com uma agulha no braço doando sangue para baixar os níveis de ferro

A hemocromatose é um dos maiores lapsos do mundo moderno. É um distúrbio herdado da metabolização do ferro, frequentemente mal diagnosticado como artrite, diabetes, doença cardíaca, impotência, depressão ou doença hepática.

Sua detecção precoce (excesso de ferro) representa uma grande oportunidade de prevenir doenças crônicas. O tratamento é feito com flebotomia terapêutica e/ou remoção especial farmacêutica através de quelantes, usados para esse objetivo especifico. Se feito nos estágios iniciais da doença,pode substancialmente reduzir a severidade dos sintomas, lesões de órgãos e morte associados com doenças crônicas.

O ferro é essencial para a vida, porém, tudo depende de dosagem. Normalmente, quando se pensa em ferro, é na prevenção de anemia, fraqueza e imunidade baixa, sendo por isso muito frequente em multivitamínicos e alimentos enriquecidos com ferro.

 “Houve um aumento de cerca de 400% na probabilidade de alguém ter ferro em excesso no organismo, ao invés de falta dele.”

Na verdade, hoje se tem observado que há mais excessos de ferro do que deficiência nas pessoas. Houve um aumento de cerca de 400% na probabilidade de alguém ter ferro em excesso no organismo, ao invés de falta dele. Isso pode colocar em sérios riscos a sua saúde!  Indivíduos com hemocromatose absorvem até 4 vezes mais ferro pela dieta do que pessoas com metabolismo normal do mineral.

Entendendo a hemocromatose

A hemocromatose é uma doença muito prevalente no mundo moderno ocidental, que afeta 1 em cada 250 pessoas, e pode ser fatal se não tratada. Normalmente, temos um mecanismo regulador de ferro, tanto é que se temos níveis adequados, a célula para de absorvê-lo dos alimentos. Se há pouco, ele absorve mais.

Caso este sistema esteja comprometido, absorvemos muito ferro da dieta, levando à hemocromatose (excesso de ferro). Trata-se de um problema de mutação genética (genHfe) muito frequente em indivíduos originários do Mediterrâneo.

Riscos de excesso de ferro

O nosso corpo tem uma capacidade limitada de excretar ferro, o que significa que facilmente há elevação do mesmo nos órgãos, como fígado, coração, pâncreas e cérebro.

O excesso de ferro está ligado ao efeito pró-oxidante. Esse aumento da oxidação no seu corpo pode lesar as suas células, causando sérios problemas de saúde, como por exemplo:

  • mudanças emocionais;
  • depressão;
  • queda de cabelo;
  • infertilidade;
  • redução do desejo sexual;
  • impotência;
  • fadiga crônica;
  • dores articulares;
  • dor no peito;
  • ataque cardíaco;
  • doença cardiovascular;
  •  arritmia cardíaca;
  • alteração de cor de pele;
  • dor abdominal;
  • elevação de enzimas hepáticas;
  • cirrose;
  • ferro elevado;
  • câncer de fígado;
  • câncer de intestino;
  • infecções bacterianas e virais;
  • síndrome do cólon irritável;
  • abortos;
  • diabetes;
  • Doença de Alzheimer;
  • fibromialgia.

“O excesso de ferro está ligado ao efeito pró-oxidante.Esse aumento da oxidação no seu corpo pode lesar as suas células, causando sérios problemas de saúde”

Alto nível de ferro e Doença de Alzheimer

O excesso de ferro no sangue aumenta a produção de radicais livres, que lesam neurônios, além de ser extremamente reativo com relação às placas beta-amiloide encontradas no cérebro de indivíduos com Doença de Alzheimer.

O ferro tende a se acumular em regiões associadas à memória e ao pensamento, que são comprometidas na Doença de Alzheimer. Os estudos em animais mostram que a redução do excesso de ferro alivia os sintomas da Doença de Alzheimer, e a intervenção precoce é importante para prevenir os estágios iniciais da doença.

Alto nível de ferro e Doença Cardíaca

Após investigações em 1.900 homens entre 42 e 60 anos de idade, pesquisadores finlandeses observaram relação entre incidência de ataque cardíaco e a quantidade de ferro no corpo. Cada ascensão de 1% no teor de ferritina (proteína que se liga ao ferro) correspondeu a 4% do aumento da taxa de risco de infarto do miocárdio.

O homem tende a acumular mais ferro do que a mulher, sendo que até os 40 anos a incidência de ataque cardíaco é de 1 mulher para cada 4 homens. Porém, o risco de homens e mulheres é igual quando elas param de menstruar, num período de 10 anos. Ou seja, durante a fase em que menstrua, a mulher mantém os seus níveis de ferro baixo, o que as protege.

Alto nível de ferro e Câncer

As evidências são claras que, especialmente no câncer de intestino, na presença de excesso de ferro, há até 3 vezes mais predisposição da doença.

Com isso, pode-se intervir preventivamente, mantendo-se os níveis baixos de ferro em indivíduos propensos à doença.

Quem corre mais risco de ter hemocromatose?

  • mulheres na menopausa;
  • homens adultos;
  •  indivíduos com predisposição genética de absorver muito ferro.

Fatores que promovem aumento de ferro

  • consumo regular de álcool;
  • beber muito vinho juntamente com carne aumenta a absorção;
  • consumir alimentos processados, como cereais e pão branco, que são fortificados com ferro inorgânico, muito mais perigoso do que o ferro da carne;
  • cozinhar com utensílios de ferro. Além desse fator, com o uso de alimentos ácidos nesses utensílios, ocorre aumento de absorção.
  • beber água com muito ferro. Aconselho usar sempre um filtro de osmose reversa.
  • multivitamínicos e minerais que contenham ferro, para adultos e crianças, no caso conter sulfato ferroso, que é um metal inorgânico, relativamente tóxico.

Cheque a ferritina

A ferritina deve ser checada através de um simples exame de sangue em jejum. Aliás, algo que todos deveriam fazer, por motivos preventivos.

O teste mede a proteína que transporta o ferro.

Os valores de referência da ferritina devem ficar entre 40 e 80ng/ml; níveis abaixo disso indicam deficiência de ferro, e níveis acima de 80 sugerem excesso.

Procure manter a sua dosagem entre 40 e 60 ng/ml. Valores acima de 100 indicam excesso de ferro que requer intervenção terapêutica. Quanto mais alto, mais tóxico e potencialmente mais lesivo, especialmente se mantido por longos períodos.

Como reduzir isso?

  • Doação de sangue. É seguro, efetivo, sem custo e certamente pode ajudar ao próximo. Caso o seu sangue não possa ser aceito por doação, solicite ao seu médico uma prescrição de Flebotomia terapêutica.
  • Astaxantina. Reduz os danos oxidativos causados pelo ferro.
  • Curcumin, um polifenol presente no turmeric, tem ação quelante de ferro.
  • Chá verde reduz absorção do ferro.
  • IP6 ou ácido fítico, um quelante de ferro, porém com resultados questionáveis.

Níveis de ferro e Doença Cardíaca

Normalmente, o ferro é um antioxidante. Porém, em dosagem elevada, passa a ser um pró-oxidante, gerando radicais livres que causam sérios problemas. Um dos principais é o aumento dos riscos de aterosclerose e doença cardíaca, por causar a oxidação do LDL colesterol, gerando lesão endotelial, vascular e proliferação do músculo liso.

Níveis de ferro, andropausa e impotência

O excesso de ferro é uma das mais importantes causas primárias de hipogonadismo, uma condição de pouca atividade dos órgãos sexuais ou gônadas. Nesse caso, o homem produz quantidades abaixo do normal de testosterona nos seus testículos, resultando em deficiência de hormônio a nível sanguíneo.

Já a impotência pode ser considerada um sintoma tardio de hemocromatose.

Níveis de ferro e envelhecimento

O ferro aumenta a produção dos radicais livres, estimulando o dano oxidativo, que é o maior fator de envelhecimento acelerado. Indivíduos com níveis de ferro menor apresentam maior longevidade, tanto é que o ferro é considerado o “espírito maligno” no envelhecimento com sucesso.      

Níveis de ferro e Diabetes

O acúmulo de ferro e outros metais no diabético é bem pronunciado. Esses depósitos comprometem o relaxamento dos vasos sanguíneos, que alimentam os nervos, consequentemente levando à destruição do nervo. Isso explica porque a administração de quelantes pode preservar a função do nervo, mesmo em Diabetes avançado.

Níveis de ferro e menopausa

Após a menopausa, há um aumento dos níveis de ferro, aumentando também o risco de doença cardiovascular, envelhecimento etc., quando comparado com mulheres antes da menopausa. Tanto é que até enfartos são mais comuns em homens até os 40 anos de idade. Após essa idade, quando as mulheres entram na menopausa, em poucos anos o risco de doença vascular se torna igual entre os dois sexos

 “Após a menopausa, há um aumento dos níveis de ferro, aumentando também o risco de doença cardiovascular, envelhecimento etc., quando comparado com mulheres antes da menopausa.”

Há 3 fatores associados que potencializam o problema:     

  1. A ausência de estrógeno causa, por si, elevação do colesterol total, LDL colesterol e triglicérides, o que já eleva os riscos de doença cardiovascular.
  2. O aumento de ferro causa efeito oxidativo pela geração aumentada de radicais livres, o que potencializa as numerosas agressões oxidativas. Elas são o maior fator acelerador de doenças degenerativas e envelhecimento acelerado.
  3. A viscosidade sanguínea aumenta pela parada da perda menstrual, aonde o sangue se torna mais grosso, o que aumenta o risco cardiovascular.

Como tratar a hemocromatose

O tratamento inicial para pacientes que tenham sido diagnosticados com excesso de ferro no organismo é a…

 

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… doação de sangue ou a flebotomia terapêutica. Antes de se fazer o procedimento, deve-se ter em mente que o limite mínimo do hematócrito a que pode se chegar com as flebotomias é entre 34 e 36%.

As quantidades removidas pela flebotomia podem variar entre a extração mínima, de 250 ml, até grandes volumes, como 600 ml. As extrações continuam até a ferritina chegar a 25 ng/ml – relembrando que é necessário ter previamente o valor do hematócrito, pois abaixo de 34% contra indica-se a flebotomia terapêutica (extração).

Benefícios da checagem de hemocromatose

Essa checagem é importante, pois pode diagnosticar a doença antes que ela comece a causar sintomas ou lesões de órgãos. Para se detectar fase pré-sintomática de longa duração, o melhor exame é:

Teste 1:% saturação de transferrina em jejum

Os valores devem ser menores que 45%, valores acima são indicativos de hemocromatose.

Teste 2:Ferritina=40 a 80ng/ml(faixa normal)

O paciente precisa estar o mais próximo possível dos valores mínimos da faixa normal.

Teste 3: Hematócrito=36 a 42%

É a porcentagem do volume total de sangue que consiste em células vermelhas. Níveis de hematócrito diminuídos estão associados com Anemia, Hipertireoidismo, Cirrose, Falência da medula óssea e numerosas outras condições patológicas.

Se você acha que pode estar com excesso de ferro no organismo, ou seja, com hemocromatose, converse com o seu médico! Super saúde!

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